09/04/2013
RENASCER DO PÓ
Add ** CECEU** em terça-feira, abril 09, 2013
RENASCER DO PÓ
A alvorada rompe o dia
com o espreguiçar de braços
e de olhos em descobertas...
E de súbito acometeu-me
uma dor lacerante, como a transpor
a alma do corpo,
e o olhar espiava, distanciado,
como se por fios atado
o já rijo, frio e empalidecido corpo.
Degradadas conclusões se avultam,
percebi o meu ceticismo, o ateísmo
e a conduta extremamente materialista.
Acreditava nesse instante,
ser a morte, só possível pesadelo.
Mas não cessou.
Já não me enxergavam, nem ouviam
enquanto me via desfilar, conduzido,
pelas estreitas ruelas
até que visto depositado em jazigo,
ainda atado a mortíferos fios.
A cova em espera de refugiar
meu indescritível e derradeiro desespero.
O esquife foi acolhido
pelo profundo abismo,
ainda que cova rasa
cercado de figuras familiares
acenando flores e dores
a depositá-las sobre o tampo já lacrado.
Ver meu outrora convívio
por sete palmos distanciados,
e aterrados com meu cadáver.
Não mais me atariam
tais enegrecidos fios, nem protelariam
a decomposição imposta com a sujeição
de amargar a confinação
com murchos botões, forros e véus roxos,
e a rarefação daquela clausura!
Haveria de ser tempo de inerte
assistir a putrefação, invasão de germes
e acarinos a consumar a silenciosa sina
da corrupção carnal.
Desintegrados os tecidos,
carcomidos os órgãos
já não havia forma,
nem tempo a ser demarcado.
Inconformado e arruinado das sensações,
seria o pó, retornando a intenção
de o pó ser uma inovada criação.
Mortificava-me ser parte das entranhas,
e houve o instante de processar
a existência divina com o desígnio
e a conscientização de desligar fios e laços,
admitir a fatídica condição e desenlace;
Mas os fios resistiam na intenção de atar.
E assumindo o desencarnar deparei-me
com a graça de ressurgir livre, entendendo
a complexidade do sentido de estar
amarrado ao apego material.
Tempo de perceber o existencialismo
do “Eu Espiritual” e do concretismo
das virtudes enquanto permanência,
essenciais para a evolução e
aprimoramento até a ascensão Moral!
Jeferson Francisco Venturato
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